De novo.
Vou te conhecer vou me encantar pela sua imagem. Construir um enredo rico do que eu quiser pra contar os elementos da foto.
A criança dormindo, o vidro quebrado da janela, as marcas no seu rosto.
Seu passado, uma vida pregressa de que eu faço parte sem conhecer. Referências da cidade que partilhamos. As diferenças serão ignoradas. Vai ser tão bom dessa vez. Vamos trocar impressões sobre amigos, lugares, idades, segredos e amar nossa memória conjunta.
Temos tudo em comum.
Vou me ver no espelho do seu rosto, entrar em cada marca de expressão e, sem pensar, vou achar que aquilo tudo ali sou eu.
Com o tempo passando vou tocar a imagem. Mergulhar primeiro a mão, o braço, cabeça, um ombro, o outro e aí meu corpo todo vai ser engolido pelo lago espelhado que será então a tua cara de lado me olhando fundo, deitado numa cama, depois de tão poucas visitas perto do tempo de duas vidas de uns sessenta anos, somadas.
Lá dentro sem ar, vou me debater tentando atinar em milissegundos quem é você e quem sou eu e onde começa ou termina cada coisa que já perdi de vista. Meus limites serão alargados demais e mais que da última vez, porque sem saber na terra de quem estou pisando, vou riscar o chão todo irregular.
Vou deixar acontecer. Doer até cansar. Vamos não acreditar, como assim, como isso tudo.
Vou buscar a fotografia velha, aquela primeira, esquecida de como parecia um mundo misterioso, grande e interessante e estalando de novo quando a descobri das primeiras vezes. O cenário vai ser já o real de fato, vou saber de cor teu rosto, vou ter mil vezes alimentado teu filho e contado pros nossos amigos o porquê da janela quebrada.
Eu vou chorar, e você vai sentir muita raiva.
Vamos deixar chegar o ponto que é impossível dar alguma coisa mais. Ninguém pára antes.
A gente quer é saber como parece a última gota.
Eu vou pra uma casa vazia, você vai ver parte da sua escoando pela porta, nossas coisas se separando umas das outras.
Tempos depois. Busco novamente a sua imagem. Filho, janela, rugas.
Suspiro de alívio.
E lamento.
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2 comentários:
"half asleep near the stars with a small dog licking your face"
te amo! flavia
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