3.2.10

Combinado

Um dia, Marcos o cabeleireiro substituto, teve um encontro inesperado:
Sua prima Arlete, que morreu em noventa e sete entalada com uma bala soft.
Marcos ficou aturdido com a aparição de Lelete (infância, muito unidos), primeiro porque entre eles desde cedo circulou uma energia gracinha que mais tarde, quinze dezesseis, trocou de nome pra tensão erótica até que um dia na lavanderia da vovó.
Bem. Em segundo lugar mas na realidade em primeiro porque, sim, sabemos como é perturbador reencontrar aquela pessoa assim de supetão, sem desmerecer a grandeza do momento, mas em primeiro lugar, então, evidentemente, porque Arlete já estava morta.

Lelete! Você voltou? Não entendi.

Sua garganta confusa e interrogante pedia um carlton atrás do outro. Que sorte, o maço tava quase completo.
Em segundinhos ele recordou a época em que Lelete tinha entrado naquela de tarô, numerologia. Que tempo bom. Ela fazia por amor, por vocação e as velhas da família tinham medo das verdades que ela soltava.
Mas não podiam resistir. Encaixavam em turnos pulos à casa da sobrinha, pra ver se ela precisa de alguma coisa, sabe como ela é, a doidinha da família, nos preocupamos com ela. Afastavam com os dedos afoitos a cortina de miçangas, ignorando as profecias de Zé Ramalho-lounge e saíam com a pulga atrás da orelha.
Ele mesmo. Ela dizia.

Marquinho, vem cá. Deixa eu fazer teu mapa astral.

E também.

Marquinho, chega mais. Tem um ballantines fechadinho, ganhei daquele meu comissário de bordo, vem cá comigo.

Lelete olhava o primo, enternecida e preocupada. Porque era mais velha, porque era mulher e cuidava.

Marquinho, vem cá. Deixa eu te contar uma coisa.
Sabe aquela cliente que não é sua e você deu um help? Aquela de São Paulo.

...

Pois.
Fui eu. Eu matei Marcos, o cabeleireiro substituto.

O motivo não vem ao caso, embora seja difícil de esconder.
E veja, eles estão juntos!
A maioria dos amigos me deu razão e nenhum se abalou demais com o ocorrido.
Mas claro, amiga, você teve que.

O tédio dela, sem serviço num ambiente branco exasperante onde tarô já era, deu uma amenizada. Têm muito assunto agora, os primos.

Fui absolvida, o delegado mesmo chamou o táxi e me mandou pra casa descansar.

E o cabelo, bem. Cresce.

2 comentários:

Tânia Tiburzio (TT) disse...

Muito bom mesmo!!! Adorei!!! Gracinha a história e coitado do Marcos!!! Tenho certeza que o cabelo vai crescer muito e rápido!
Beijos!!

Victor disse...

não fico satisfeito quando leio algo e veja, deixo de querer dormir já que o sono é texto não sentido, mas talvez, quem sabe, sonhado.
agora é boa noite.
não, não é. É outro texto. E obrigado.