5.6.12

pai, ainda durmo com suas camisas velhas.
elas ficam mais finas a cada lavada, eu não me importo, acordo descabelada, cheirosa, decrépita, maquilada, radiante no sábado de manhã e tenho tudo mais pela frente: a manicure, os bebês gêmeos, a sauna.
você sabe pai, que eu não sinto mais aquela magia?
já soube algum dia?
eu sinto a alegria grátis e o contentamento, hoje de manhã chorei no ônibus com a beleza do outono na montanha, mas é isso.
e que eu sonho toda noite com as pessoas mais improváveis, os comediantes e os mortos, sonho que sou a secretária deles, e quase toda semana que o ano está terminando e faltei todas as aulas de geografia.
você sabe que eu só posso te contar metade das coisas?