23.12.10

eu que penso em tudo mas só quando estou sozinha

Um dia de vida normal na minha cidade. É só que existe um clima de despedida boiando por aí, se não seria igual a outra quinta-feira.
Posso passar completamente de uma vida pra outra, de uma cidade pra outra sem grandes dores. Me acho fria nessa hora.
Estranhei o sotaque das pessoas e a quantidade de palavras que elas falam. Muitas vogais, as mesmas minhas. Estranhei a Uruguaiana, mas Copacabana tudo normal. As pessoas se encostam o tempo todo quando falam, a moça do laboratório no guarda municipal, o funcionário do museu no chefe da segurança.
A escolta passa na Presidente Vargas fazendo o maior escândalo que consegue, as pessoas continuam se movendo molemente.
As barrigas saltando pra fora das camisetas.
A truta no restaurante preferido ainda tem o mesmo gosto.
Os homens continuam olhando as moças de perto.
Os chefes de bermuda, e a vista do cortiço pela janela do escritório.
Os gays são menos aparentes, as mulheres são mais meninas.
O rapazinho não recolhe a amostra de amendoim que deixou na mesa.
Conheci um francês no metrô. Não, um francês me conheceu e deu seu cartão pessoal.
me téléfonn mocinha, parra tomarr alguma cóissa.
Os gringos pensam que eu sou gringa, eu mesma penso que sou.
A moça descalça um pé e leva ele pra cima da cadeira do bar enquanto conversa com a amiga.
É como se fosse tudo que já foi mas com outra roupa.
E o cheiro é igual só que diferente.


Um comentário:

Tânia Tiburzio (TT) disse...

Adorei! Muito, muito legal mesmo. Esse estranhamento é algo tão inexplicável e me lembra alguma coisa do Pessoa: "Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros. Onde quer que moremos, tudo é alheio. Nem fala língua nossa."
Sinto isso também qdo volto pra casa que já não é minha mas ainda é. Te enteno e compartilho esse sentimento.