9.1.10
O inocente se foi, já era, bom saber e se você estiver com isso menino, essa placa mãe de compaixão acesa achando que isso salva a comunidade, que o problema dos outros é mais intenso, se liga, estivemos nós mulheres aqui desde sempre, algumas negando, algumas sempre tocando em frente, e todos olhamos a família dos outros e passamos a mão na escova recém saída do salão da senhora que salvamos da enchente como um cãozinho, quanta condescendência, mas não podemos voltar o olhar pro dedo decepado da nossa avó, ela, nossa vó de todos que estão vivos ainda, a nona doce cheirosa a talco e de sonhos e seu dedo amputado pelos bandidos a casa sagrada invadida e sangrando mutilado ainda com o anel de noivado a juventude cinquentenária e ninguém via eu gritava, ninguém via--ACORDEM-- negos adoram olhar pra fora, pro tema da redação, o jornal e o estritamente profissional e público brilhante como se essa merda fosse o fio da vida como ignorando que a babaquara tomou conta do pedaço, e você se achando muito esperto seu péla-saco, você aceitou, você engoliu a crocodilagem sem fazer nada, culpando seus mais velhos e seus mais novos pela escrotice da sua vida de concurso e boteco e sua gordura inesperada, você, sua mulher fora do tempo, bêbada, com seus borrões de marinheiro e sua pança mentirosa. Tudo em você soa cair fora do seu e afagar o outro. Tudo em você soa mentira.
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Um comentário:
Forte, ácido e muito bom. Foi como um soco no estomâgo. Parabéns! Beijos!!
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